sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Enquanto dormimos

"Enquanto dormimos/ a dor que não se dissipa/ 

cai gota a gota sobre nosso coração/ até que, em meio ao nosso desespero/ 

e contra a nossa vontade/ apenas pela graça divina/ 

vem a sabedoria. Enquanto dormimos..."

Ésquilo- Agamenon

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A Idade de ser feliz- Mário Quintana

Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na

vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia 

bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.

Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente 

e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.

Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria 

imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos 

os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.

Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à 

luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de 

NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração 

do instante que passa.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Libelo

"De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar – e um barco 

[com o nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar ?

E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem 

[senão de suas mãos, uma pro caniço, outra pro queixo, que é para ele poder 

se perder no infinito, e uma garrafa de cachaça pra puxar tristeza, e um pouco 

de pensamento pra pensar até se perder no infinito...
..............................

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de terra -- um pedaço 

[bem verde de terra e uma casa, não grande, branquinha, com uma horta e 

um modesto pomar; e um jardim – que um jardim é importante – carregado 

de [flor de cheirar ?

E enquanto morando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem 

[senão de suas mãos para mexer a terra e arranhar uns acordes de violão 

quando a noite se faz de luar, e uma garrafa de uísque pra puxar mistério, 

que casa sem mistério não valor morar...
.................................

De que mais precisa um homem senão de um amigo pra ele gostar, um 

[amigo bem seco, bem simples, desses que nem precisa falar -- basta olhar -

um desses que desmereça um pouco da amizade, de um amigo pra paz e pra 

[briga, um amigo de paz e de bar ?

E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem 

[senão de suas mãos para apertar as mãos do amigo depois das ausências, e 

pra bater nas costas do amigo, e pra discutir com o amigo e pra servir bebida 

à vontade ao amigo ?
...................................

De que mais precisa um homem senão de uma mulher pra ele amar, uma 

[mulher com dois seios e um ventre, e uma certa expressão singular ? E 

enquanto pensando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem 

senão de [um carinho de mulher quando a tristeza o derruba, ou o destino o 

carrega em sua onda sem rumo ?

Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher -- as 

únicas coisas livres que lhe restam para lutar pelo mar, pela terra, pelo 

amigo ..."


Vinicius de Moraes

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Esta Velha Angústia- Álvaro de Campos

Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.
Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.
Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos: Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...
Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.
Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco, Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer — Júpiter, Jeová, a Humanidade —
Qualquer serviria, Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

Estala, coração de vidro pintado!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Quem tivesse um amor

Quem tivesse um amor, nesta noite de lua, para pensar um belo pensamento e 

pousá-lo no vento!Quem tivesse um amor - longe, certo e impossível -para se 

ver chorando, e gostar de chorar,e adormecer de lágrimas e luar!

Quem tivesse um amor, e, entre o mar e as estrelas,partisse por nuvens, 

dormentes e acordado,levitando apenas, pelo amor levado...Quem tivesse um 

amor, sem dúvida nem mácula,sem antes nem depois: verdade e alegoria...Ah! 

quem tivesse... (Mas, quem teve? quem teria?).


Cecília Meirelles

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Ruth Cardoso


Dona Ruth Cardoso, foi assim que ela ficou conhecida nacionalmente,era 

uma dessas pessoas que todos nós gostaríamos que fizesse parte de nossa

família.

Sua aparência de calma e tranqüilidade, a postura sempre exemplar, a

delicadeza de gestos era admirada por todos.

A inteligência, e força de caráter, certamente irão nos fazer falta.O respeito

pelo ser humano e pelo Brasil, fizeram com que o país, a chamasse assim,

com esse respeito, para todos nós, ela sempre foi a Dona Ruth, mulher forte

e que sabia que ser mulher é tarefa das mais difíceis, mas que não teve

medo. Mulher de idéias próprias, que sabia o que dizer com grande

propriedade, mas mais do que isso sempre soube a hora de calar. Que não se

deslumbrou com o poder e assumiu sua condição de primeira dama (a qual

deu um novo sentido), com elegância e seriedade. Dona Ruth Cardoso,

morreu assim como viveu, com discrição, sem fazer alarde.

Partiu, mas deixou um exemplo de caráter e idoneidade moral.

Como ser humano e como mulher nunca se escondeu e assumiu com suas

atitudes de comprometimento com a sociedade em que vivia, a tarefa de

construir mundo melhor, menos injusto, mais responsável.

Ficará para sempre o respeito e a saudade dessa mulher virtuosa.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Aniversário- Álvaro de Campos

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu era feliz e ninguém estava morto.

Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,

E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,

De ser inteligente para entre a família,

E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.

Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.

Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,

O que fui de coração e parentesco.

O que fui de serões de meia-província,

O que fui de amarem-me e eu ser menino,

O que fui ... ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...

A que distância!...

(Nem o acho...)

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,

Pondo grelado nas paredes...

O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas 

lágrimas),

O que eu sou hoje é terem vendido a casa,

É terem morrido todos,

É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!

Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,

Por uma viagem metafísica e carnal,

Com uma dualidade de eu para mim...

Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...

A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,com mais 

copos,

O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do 

alçado---,

As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo 

em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!

Não penses!

Deixa o pensar na cabeça!

Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!

Hoje já não faço anos.Duro.

Somam-se-me dias.

Serei velho quando o for.

Mais nada.Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


Álvaro de Campos- 15/10/1929

A Mário de Andrade de Ausente - Manuel Bandeira

"Anunciaram que você morreu.

Meus olhos, meus ouvidos testemunham:

A alma profunda, não.

Por isso não sinto agora a sua falta.

Sei bem que ela virá (Pela fôrça persuasiva do tempo).

Virá súbito um dia,

Inadvertida para os demais

Por exemplo assim:

À mesa conversarão de uma coisa e outra

Uma palavra lançada à toa

Baterá na franja dos lutos de sangue.

Alguem perguntará em que estou pensando,

Sorrirei sem dizer que em você,

Profundamente.

Mas agora não sinto a sua falta.

É sempre assim quando o ausente Partiu sem se despedir:

(Você não se despediu.)

Você não morreu: ausentou-se.

Direi: Faz tempo que êle não escreve.

Irei a São Paulo: você não virá no meu hotel.

Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.

Saberei que não, você ausentou-se.

Para outra vida?

A vida é uma só. A sua vida continua

Na vida que você viveu.

Por isso não sinto agora sua falta."

1945

terça-feira, 17 de junho de 2008

W.H.Haudem

Parem todos os relógios,

desliguem o telefone.

Impeçam que o cão ladre com um osso gostoso.

Silenciem os pianos, e com um rufar surdo, tragam o caixão.

Que venham os pranteadores,

Que os aviões circulem pranteando acima de nós escrevendo no céu a 

mensagem

"Ele está morto".

Coloquem grandes laços no pescoço branco das pombas,

Que os policiais usem luvas pretas de algodão.

Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e meu Oeste.

Minha semana de trabalho e meu descanso dominical.

Meu meio-dia, minha meia-noite,

minha conversa, minha canção.

Pensei que o amor fosse eterno.

Estava enganado,

As estrelas são indesejadas agora

Apaguem todas,

Embalem a lua e desmontem o sol.

Esvaziem o oceano e varam o ar das florestas

Pois nada mais agora pode servir.

Procuro despir-me do que aprendi,

Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,

e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos.

Desencaixotar minhas emoções verdadeiras,

desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,

mas um animal humano que a natureza produziu.

Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),

isso exige um estudo profundo,

uma aprendizagem de desaprender.


Alberto Caeiro

Divertimentos

O primeiro olhar para fora da janela pela manhã,

O velho livro encontrado

Rostos entusiasmados

Neve, a mudança das estações

O jornal

O cachorro

A dialética

Tomar um banho, nadar

Música antiga

sapatos confortáveis

Compreender

música nova

Escrever, plantar

Viajar cantar ser amável


Bertolt Brecht

O último poema

Assim eu queria o meu último poema,

Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais,

Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas,

Que tivesse a beleza da chama em que se consomem os diamantes mais 

límpidos,

A paixão dos suícidas que se matam sem explicação.


Manuel Bandeira
"Se depender de mim ,
 
nunca ficarei plenamente maduro,
 
nem nas idéias, nem no estilo,
 
mas sempre verde, incompleto, experimental."


Gilberto Freyre
Tenho admirado bárbaros,

Corrido atrás do vento..

De noite depois do sonho, ansiedade, agonia,

Eterna sensação,

É preciso confessar.

Descontentamento, espanto, medo,

Identidade,

Humanidade, produtos,

Consciência crítica,

Sorrisos...

Saudosismo,

Consumo, nostalgia,

Metáfora, embate.


Ethel Joyce Borges Munhoz
Todos os relógios da cidade começam a girar e a tocar

Mas não deixe o tempo te enganar,

Pois o tempo não há quem conquiste.

Em angústias e preocupações a vida escoa vagamente,

e a todos o tempo há de consumir,

seja agora ou no porvir.


W.H.Anden
Amo como ama o amor.

Não conheço nenhuma outra razão para amar se não amar.

Que queres que te diga,

Além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?


Fernando Pessoa
"O amor é que é essêncial,

O sexo é só um acidente

Pode ser igual ou diferente.

O homem não é um animal.

E´uma carne inteligente,

Embora as vezes doente."


Fernando Pessoa
Posso pressentir a velhice aproximando-se de mim,

De minha pele, meus ossos,

Ela se aproxima lentamente, toma acento e de repente se faz notar,

No brilho dos olhos, no riso cansado...

Sinto um arrepio de medo quando me dou conta dessa presença.

Não quero sofrer...

Não quero a solidão...

Quero tornar-me uma pessoa melhor,

Amadurecer,

Estar pronta, preparada...

Quero repartir, compartilhar, confiar, confiar..


Ethel Joyce Borges Munhoz

Diante de uma criança

Como fazer feliz meu filho?

Não há receitas para tal.

Todo o saber, todo o meu brilho

de vaidosa intelectual

vacila ante a interrogação

gravada em mim, impressa no ar.

Bola, bombons, patinação

talvez bastem para encantar?

Imprevistas, fartas mesadas,

louvores, prêmios, complacências,

milhões de coisas desejadas,

concedidas sem reticências?

Liberdade alheia a limites,

perdão de erros, sem julgamento,

e dizer-lhe que estamos quites,

conforme a lei do esquecimento?

Submeter-se à sua vontade

sem ponderar, sem discutir?

Dar-lhe tudo aquilo que há

de entontecer um grão-vizir?

E se depois de tanto mimo

que o atraia, ele se sente

pobre, sem paz e sem arrimo,

alma vazia, amargamente?

Não é feliz. Mas que fazer

para consolo desta criança?

Como em seu íntimo acender

uma fagulha de confiança?

Eis que acode meu coração

e oferece, como uma flor,

a doçura desta lição:

dar a meu filho meu amor.

Pois o amor resgata a pobreza,
vence o tédio, ilumina o dia
e instaura em nossa natureza
a imperecível alegria.


Carlos Drummond de Andrade - 1996. "Farewell".
"Tenho pensamentos que, se pudesse revela-los,e fazê-los viver,

acrescentariam nova luminosidade às estrelas,

nova beleza ao mundo e mais amor ao coração dos homens."


Fernando Pessoa

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Poema da necessidade

É preciso casar João,

é preciso suportar, Antônio,

é preciso odiar Melquíades

é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,

é preciso crer em Deus,

é preciso pagar as dívidas,

é preciso comprar um rádio,

é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,

é preciso estar sempre bêbado,

é preciso ler Baudelaire,

é preciso colher as flores

de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens

é preciso não assassiná-los,

é preciso ter mãos pálidas

e anunciar O FIM DO MUNDO.


Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Memória

Amar o perdido

deixa confundido este coração.

Nada pode o olvido contra o sem

sentido apelo do não.

As coisas tangíveis tornan-se insensíveis

a palma da mão.

Mas as coisas findas,

muito mais que lindas,

essas ficarão.


Carlos Drumond de Andrade
"Minhas intenções eram boas, mas enganei-me na maneira de alcançá-las.

Fui um estúpido. O conhecimento me chegou tarde demais...Muito tarde me 

chegou a certeza de nada saber..."

 
Ezra Pound

quarta-feira, 21 de maio de 2008

''(...) E me deito ao comprido na erva

E fecho os olhos quentes,

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade

Sei a verdade e sou feliz."


Alberto Caeiro

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Admirável Marina

Lamentável a notícia da saída da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. É claro que todos nós tínhamos conhecimento do descompasso de suas idéias com as diretrizes do governo atual, mas confesso, eu tinha a esperança de que ela resistisse à pressão e ao descaso e continuasse no cargo ao menos para que nós, que acreditamos numa política ambiental mais séria, não caíssemos no desamparo total. Marina Silva é desse tipo de mulher que nos enche de admiração. Ambientalista, pedagoga. Nasceu em Breu Velho, no seringal Bagaço, em Rio Branco (Acre). Trabalhou desde cedo nos seringais, e aos quatorze anos conhecia apenas as operações básicas de matemática. Em 1985 formou-se em História pela Universidade do Acre e mais tarde engajou-se no Movimento Sindical, companheira de Chico Mendes em sua luta pelos seringueiros.
Marina sempre foi uma das principais figuras na luta em favor do meio ambiente, da biodiversidade e da preservação da Amazônia. Desde o início, Marina Silva destoou desse governo por sua transparência e seriedade.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Isabella Nardoni

O caso da morte da garotinha Isabella Nardoni (5), nos fez tomar consciência de que tudo é permitido. Já não existem limites.O horror dessa notícia é um golpe mortal na família brasileira. O lar que deveria servir de abrigo, já não é. O pai que deveria proteger pode ser o agente da barbárie. Toda a revolta que temos visto em relação a este caso é compreensível, estamos cansados de tantas injustiças, cansados de não ter voz.Diante de tudo isto o que me espanta é o tratamento que muitos têm dado a mãe de Isabella, a jovem, Ana Carolina Cunha de Oliveira, (24).Parece que a calma dessa mãe, não só nos espanta como ofende. O fato dela não expor sua dor é imperdoável. Gostaríamos de vê-la nas capas das revistas de fofoca, clamando vingança. Mas que conforto isso nos traria?De certa forma, parece que a exposição dessa dor nos traria alívio.O sofrimento dos outros nos consola. Há certo, prazer em compartilhar da dor do nosso semelhante. Como se disséssemos afinal, não é só eu...
O sofrimento do outro nos acalma.O que aconteceu a essa mulher é inexplicável, não é possível precisar qual seria a reação ideal para tamanho horror.Essa jovem mãe, tem nos dado um exemplo de serenidade e bom senso diante da dor que a atingiu.
Devemos deixar que essa mãe, possa honrar a memória de sua filha e respeitar sua dor.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Trapo

Eu hoje acordei assim, sem vontade de dizer nada...empresto as palavras de meu querido Álvaro de Campos...



"O dia deu em chuvoso. A manhã, contudo, esteve bastante azul. O dia deu em chuvoso. Desde manhã eu estava um pouco triste.


Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma? Não sei: já ao acordar estava triste. O dia deu em chuvoso.


Bem sei, a penumbra da chuva é elegante. Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante. Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante. Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante? Dêem-me o céu azul e o sol visível. Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.


Hoje quero só sossego. Até amaria o lar, desde que o não tivesse. Chego a ter sono de vontade de ter sossego. Não exageremos! Tenho efetivamente sono, sem explicação. O dia deu em chuvoso.


Carinhos? Afetos? São memórias... É preciso ser-se criança para os ter... Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro! O dia deu em chuvoso.


Boca bonita da filha do caseiro, Polpa de fruta de um coração por comer... Quando foi isso? Não sei... No azul da manhã...


O dia deu em chuvoso."



Álvaro de Campos

sexta-feira, 28 de março de 2008

Cartões Corporativos

Pra não dizer que não falei sobre as mazelas dos Cartões Corporativos, vamos lá:
Quando perguntada sobre o caso dos Cartões Corporativos a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), disse de pronto: “Não vamos apanhar quietos.” Pelo que se sabe o Erenice Alves Guerra, secretária executiva, e pessoa de confiança da ministra Dilma Rousseff, assumiu como sendo sua a iniciativa de coletar e preparar um dossiê com os gastos dos Cartões Corporativos realizados na gestão de FHC. O relatório existe e já esta circulando na mídia, contudo o governo continua negando qualquer intenção de usar esses dados para confundir ou distrair a opinião pública das noticias referentes aos gastos (no mínimo descabidos), com os Cartões Corporativos usados por membros do atual governo. A listagem com os gastos não deixa de ser interessante, D.Ruth Cardoso é mencionada 23 vezes e o ex- presidente FHC, apenas uma vez. Os gastos discriminados são de todo tipo, aluguel de carro, cosméticos, farmácia, bebidas, doces, balas, ingressos para cinema, zoológico, parque temático. Quando surgiram os boatos da feitura do dossiê FHC rapidamente autorizou a divulgação de dados sigilosos de seus familiares e de seu gabinete. Os cartões corporativos podem ser usados para pequenos gastos e despesas de emergência e a meu ver esse empurra-empurra vai longe...
O que me parece realmente importante, está se perdendo em meio à troca de acusações e ameaças veladas. É claro que saber como foi utilizado o dinheiro publico e quais foram os gastos, não apenas do governo FHC, mas de todos os governos passados é notícia de interesse de todos. No entanto, o importante agora é saber o quê excelentíssimos membros do atual governo e seus funcionários estão fazendo com o dinheiro público em suas horas de folga.. O fato de saber que o governo A, B ou C foi infeliz na gestão de seus recursos e gastos, não diminui e tampouco isenta o atual governo de prestar contas a população. Quem durante tanto tempo cobrou de todos, transparência e integridade, deve fazer por merecer a confiança recebida.
Que a mídia e os donos da notícia nos ajudem para que não se perca o foco desta discussão.

Ethel Joyce Borges

terça-feira, 25 de março de 2008

Boas Novas da Educação

Nem só de más noticias vive a Educação no Brasil. Ainda há o que se comemorar. É com o espírito aliviado que recebo as boas novas do MEC, sobre a situação da Educação no Brasil.
Foi apresentado nesta terça- feira, 25/ 03/2008, pelo ministro Fernando Haddad, o resultado do estudo "Redes de Aprendizagem: boas práticas de municípios que garantem o direito de aprender.", elaborado pelo Ministério da Educação em parceria com a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação). O resultado mostra que dos 5.564 municípios brasileiros, apenas 37 passaram pela peneira do MEC, tendo como principal critério o IDEB, (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) com nota de uma a dez. É uma boa noticia que nos deixa com uma sensação esquisita, de que alguma coisa está errada. Ao ver que o município de Sete Barras com uma população de 15 mil habitantes, Sud Menucci com 7.714 habitantes e Votuporanga com 77.622, habitantes fica o espanto de saber que num estado composto por 645 municípios, com uma população de 41.055.734, apenas três deles estão fazendo a “lição de casa.”
É claro que a noticia não é todo ruim e o que se pode fazer é pedir licença e copiar o que está sendo feito nestes municípios, em sua maioria com uma renda menor que a média nacional, com muito trabalho e a boa vontade de seus profissionais. O mais chocante neste quadro é ver que nos grandes municípios a educação foi esquecida.
De maneira geral as medidas tomadas em comum pelas escolas não são nenhuma novidade:
Planejamento didático e pedagógico;
Olhar individualizado para o aluno;
Acesso ao ensino fundamental;
Valorização da leitura;
Avaliações freqüentes;
Reforço escolar;
Recuperação no período de férias;
Alunos familiarizados com o uso do computador e da internet;
Uma gestão participativa e ativa;
Escolas municipais integradas e Professores avaliados regularmente e valorizados;
Tudo o que se pode esperar de qualquer unidade de ensino que preze soa como exceção. O Trabalho desses profissionais nos enche de orgulho e de esperança. É uma mostra de que nem tudo está perdido e que sim, existe luz no fim do túnel.
Parabéns ao esforço destes profissionais da educação que lutam contra a estagnação e acreditam no potencial de seus alunos e professores.

quarta-feira, 19 de março de 2008

A Educação pede Socorro

Segundo o resultado do Saresp 2007(Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), a cidade de Bauru tem uma das piores escolas no ensino de matemática, do Estado de São Paulo, a Escola Estadual Professor Ayrton Busch, (média 226,0), este é um dado muito triste para a cidade de Bauru, muitos poderão dizer, "Ah, mas com tantas escolas em Bauru apenas uma foi citada..". Na realidade a situação é um pouco pior...
A cidade de Bauru deveria estar de luto diante desta noticia.
De acordo com o mesmo Saresp 2007, 71% dos alunos concluem o ensino Médio sem saber o básico em matemática; apenas 22% têm um desempenho considerado adequado e 24% dos alunos de 8* série não consegue identificar a intenção de um autor. Para alguns o sistema de progressão continuada que foi adotado na rede de ensino estadual é a causa desse quadro desalentador. O que acontece é que na verdade o problema é um pouco maior. É um problema nacional. Para nossa Secretária Estadual de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, que assumiu a secretária em julho de 2007, “... o rumo está acertado". Sabemos que não há o que comemorar. A situação é caótica.
Sinceramente eu gostaria de saber exatamente quais os critérios utilizados para avaliar, e convidar nossa secretária para uma semana de aula em qualquer uma das escolas de ensino Fundamental e Médio do Estado. a conclusão seria uma só, está tudo errado. As carências são gerais e nacionais.
Falta material, quando existe o material ele está amontoado, mofando em salas fora do alcance dos alunos.
Falta motivação da Direção, dos Coordenadores, dos Professores e principalmente dos alunos.
Falta preparo dos profissionais, Falta boa vontade de pais ausentes e de alunos, que se julgam no direito de agredir Professores e companheiros de sala de aula.
Educadores em geral estão totalmente desmotivados e acuados, por uma massa de alunos agressivos, desinteressados, e conformados com sua impossibilidade.
Falta a colaboração dos pais que muitas vezes pensam que educar seus filhos é papel único e exclusivo da escola, esquecendo-se de desempenhar seu papel de primeiro educador.
Tive oportunidade de acompanhar no ano de 2007 algumas "tentativas', de reunião da APM e o que vi é muito triste, os pais não comparecem e os que ainda se dão ao trabalho de ir estão completamente fora de sintonia com seus filhos, não existe dialogo e o que cada um quer é apenas que no final do ano o certificado de conclusão seja entregue. Educar dá trabalho. É preciso acompanhar de perto, é preciso mostrar o caminho, apontar o erro.
O Estado tem se colocado no papel de pai preguiçoso, que prefere fingir que está tudo bem a se dar ao trabalho de mudar, começar tudo de novo. O modelo que está aí não funciona, isso já está provado, o grande dragão é o ensino da matemática, mas em todas as disciplinas a deficiência é grande. As escolas estão sucateadas. O problema já vem do ensino Fundamental que promove alunos que desconhecem os conteúdos básicos. Em 5500 escolas, 250 mil professores, e 5 milhões de alunos estão sem saber o que fazer. É preciso que se tomem medidas extremas para que uma mudança ocorra. Um país que não educa suas crianças não tem como crescer e se desenvolver. Espanta-me ver que as cabeças brilhantes e privilegiadas deste país estejam silenciadas diante de quadro tão negro.( com o perdão do trocadilho).

sexta-feira, 7 de março de 2008

Missão Amorosa do Homem

Algumas pessoas dormem e acordam angustiadas, buscando uma resposta que lhes dê uma direção para suas vidas. Qual é o sentido da minha existência?Parece impossível que exista uma resposta para essa indagação, no entanto, relendo uns versos de Drumond, não pude deixar de sorrir, diante de uma resposta tão singela. Quando ele nos pergunta: “Que pode uma criatura senão entre criaturas amar?”. Está nos dando uma dica preciosa, mais adiante quando nos diz, “... Este é o nosso destino: amor sem conta...”, tudo faz sentido.Existo para amar meu semelhante. Fui criado para materializar e colocar em prática esse amor. Mas que amor é esse? Como trazer à existência esse projeto de amor sem fim? Esse amor paciente, benigno, que tudo suporta, que perdoa, que espera, que sabe compartilhar e doar-se em bondade? Que se alegra com as conquistas do outro, que não tem ciúmes, que sabe servir sem esperar vantagem?Estamos cercados por tanta violência, tanto egoísmo, tanta corrupção que não conseguimos enxergar que somos responsáveis e co-autores dessa história que está sendo escrita. A responsabilidade também é minha a partir do momento em que não passo adiante essa mensagem amorosa, no momento em que não assumo essa missão de amor sem conta que me foi atribuída pelo Criador. Em cada instante em que deixo de praticar atitudes generosas para com meu semelhante. Quando muitas vezes faço piada da inocência, da pureza e da bondade. Quando aceito que meu filho se julgue melhor que os outros. Quando passo a diante este ensinamento infame de que, já que estamos sendo prejudicados por um sistema corrupto temos sim, o direito de levar alguma vantagem, não importa a que preço. Todas as vezes em que ao cruzar com meu vizinho do lado desvio o olhar e finjo que não o vi. Todas as vezes que me faço de cego e ignoro meu semelhante caído na rua, impossibilitado de experimentar uma existência digna assino em baixo este decreto geral de calamidade publica. Essa passividade diante do erro é tão cruel quanto qualquer atitude violenta. É a minha maneira civilizada de ser cruel. Todo gesto de amor não cometido, toda palavra amorosa que não verbalizo é um passo dado em direção à violência, ao descaso, à consumação da morte da Razão, anunciada todos os dias nas manchetes dos jornais. Com certeza ainda é tempo de assumir cada qual a sua cruz, de dar o primeiro passo, não eles, não meu pai, minha mãe, meu irmão, meus filhos, o presidente, meu patrão, Senadores, Deputados, Vereadores, Legisladores, Promotores, Juízes, mas eu, eu mesma, em minha pequenez, imbuída da certeza de que é esse o meu destino. Dar o primeiro passo e assim começar a alterar o destino, a movimentar a História. Um passo de cada vez. Um pequeno gesto, um sorriso de cada vez. Fazer girar essa roda. Contagiar o mundo com esse amor e sentir a paz resultante da missão cumprida. Dormir o sono dos Justos.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Cinemas de Bauru

Assistindo à entrega do Oscar domingo passado, mais uma vez me senti frustrada por morar em Bauru. Quero deixar claro que amo nossa cidade e que o que me entristece é o fato de numa cidade de 356.680 habitantes o nosso direito à cultura, à informação e até ao lazer esteja sujeito a não sei que tipo de regras que nos impedem de acompanhar uma coisa tão básica quanto o simples lançamento dos filmes mais atuais, quanto mais dos melhores filmes. Sou uma leitora assídua sobre cinema, gosto de acompanhar os lançamentos, procuro me informar sobre o que acontece e mesmo assim me senti completamente por fora vendo a premiação de filmes, atores e diretores, sem ter tido a oportunidade de ver seus trabalhos. As instalações dos nossos cinemas estão muito bem, obrigada, ainda que me entristeça o fechamento do saudoso Cine Bauru, onde na adolescência passei momentos inesquecíveis com meus ídolos de juventude.O que falta é conteúdo. Causa-me espanto essa administração dos nossos cinemas, que não se dá ao mínimo trabalho de exibir ao menos os lançamentos, as novidades. O que dizer então de quando queremos assistir a um filme mais cult, e só nos resta correr às locadoras? É triste essa falta de visão. Existe público? Sim, existe, o que falta são opções. Muitas vezes, em três ou mais salas, somos presenteados com o último filme da Xuxa. Essa falta de alternativas me tira o direito à informação e à formação de opinião. Como posso saber se Javier Bardem recebeu uma premiação merecida se sou impedida de assistir seu desempenho? Como saber se o melhor filme é o melhor se não pude assisti-lo? Cinema é lazer, é entretenimento, é formador de opinião e de cultura. O cinema reflete o momento que o mundo está vivendo, suas inquietações, suas tendências. Nós da cidade “Sem Limites”, queremos fazer parte da elite que existe nesse país e que tem acesso à informação e à cultura.

Ethel Joyce Borges

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O Adeus a Fidel Castro

Qual a real preocupação das grandes nações com o desfecho que Fidel Castro, dará aos seus 49 anos e 55 dias de ditadura? O que Cuba tem realmente a nos oferecer? Um novo mercado? Novos investimentos? A primeira impressão é a de que estão todos loucos para ver quem será o primeiro a vender essa ilusão de que consumo é = a felicidade. Quem será o primeiro a montar sua barraquinha nesse novo mercado? O que estaremos dispostos a oferecer e a sacrificar para sermos os primeiros a negociar livremente com esse povo sedento de liberdade e auto-estima?
O legado que o povo cubano nos deixou durante estes anos de uma Ditadura vergonhosa é feito de música, alegria, esperança e uma confiança inabalável de que dias melhores virão. Damos graças por nossos hermanos cubanos, por essa lição de coragem que muitos teimam em não reconhecer.
Os EUA numa atitude imperialista e mesquinha mantiveram um embargo econômico sem propósito a uma nação sofrida e desprotegida durante 46 anos que vem desde 07/02/1962. Se, de um lado o governo antiquado e muitas vezes brutal Del Comandante atormentou o povo cubano, de outro, esse embargo econômico e financeiro tirou durante todos esses anos a possibilidade das pequenas conquistas reais de milhões de cubanos. Quantos não morreram indo atrás desse sonho, dessa possibilidade?
Não é novidade o tipo de tratamento que a grande nação dá a seus imigrantes. Por trás de uma falsa aparência de igualdade, imigrantes em sua maioria latinos vivem cercados de preconceito e discriminação.
Em nome da democracia os EUA contribuíram como poucos para que ditaduras fossem mantidas, regimes sanguinários se consolidassem e algumas centenas de milhares de vidas fossem eliminadas ante o olhar estarrecido do mundo.
A China causa preocupação, a Coreia causa preocupação, o Oriente médio com suas disputas e sua cegueira espiritual causa preocupação. Burma, com seu banho de sangue, a União Soviética, com um governo manipulador e desprovido de ética, causam preocupação. O descaso desse governo Busch com o meio-ambiente causa preocupação. O aquecimento global, os sistemas de saúde mundiais andando às cegas, falidos, nos enche de preocupação e, no entanto, o mundo teima em olhar para um governante alquebrado ciente de que seu sonho de imortalidade era uma mentira e de que sua hora chegou. Cuba é hoje uma nação com os pés no desamparo. Um país cheio de dividas, sem reservas e com sua economia paralisada.

Essa é a hora em que o mundo deve estender suas mãos generosas a esse povo tão sofrido, sedento de oportunidades. Devemos ajudá-los a dar os primeiros passos em direção à democracia e ao respeito aos direitos humanos e dar-lhes as boas vindas.
Bem-vindos filhos da revolução! Bem-vindo Raúl!
Até nunca mais Fidel.

Ethel Joyce Borges

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Cartola, saudades do poeta do morro.

Desde pequena ouço os sambas de Cartola, a sua calma poética, seu romantismo comedido, sempre me fizeram bem. Quem mais poderia dizer com tanta doçura "Queixo-me as rosas, mas que bobagem, as rosas não falam..."?
A figura de Cartola assim como a sua música é única, ninguém representou tão bem o homem do morro, suas dores, seus amores, como Cartola.
Seu amor por sua musa, Eusébia Silva do Nascimento, a dona Zica, é como o amor que todos sonhamos encontrar, um amor sereno, verdadeiro, sem falsas expectativas, um amor para ser vivido eternamente.
O desapego do homem do morro, a camaradagem e o humor do sambista, o sorriso sempre doce, esbarram sempre presentes em nossa memória. A sua música será sempre bem vinda e servirá de trilha sonora para nossa vida e nossos amores.
Saudades, Cartola, é triste lembrar que você não está mais entre nós. Por sorte nos deixou esse legado tão rico, sua música e sua poesia.

Mais triste, porém, foi ver sua escola tão amada, a quem ele deu o nome e as cores, sambando na avenida, festejando o frevo, esquecida de seu poeta maior. Teria sido tão lindo atravessar a avenida festejando com a cidade a vida, o samba e a poesia de Cartola.
Imperdoável essa falha da verde e rosa. Não bastasse isso ainda somos obrigados a aceitar o envolvimento da escola com a elite do crime.

O povo não merecia isso, mestre Cartola, não merecia esse esquecimento.

A “verde e rosa,” perdeu, uma excelente oportunidade de reverenciar seu sambista, seu poeta maior, nosso querido mestre, Cartola.
Ethel Joyce Borges

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Considerações sobre o nada I

Andando pelas ruas da cidade, não poso deixar de notar o alvoroço causado pelas meninas e meninos, cambaleantes, entorpecidos pela idiotice. Eles se colocam na frente dos carros, alguns sorridentes, exultantes, quase em delírio com sua cabeça raspada, o rosto e o corpo pintados, outros com semblante abatido, como ovelhas indo ao matadouro, incrédulos mas incapazes de escapar, de se rebelar de dizer não. A missão de cada um é pedir, implorar, sujeitar-se a humilhação e sorrir, agradecer e sorrir, obedecer e sorrir. Mansos, subjugados por eles os "veteranos".

Pergunto-me quem são? Estudantes cheios de sapiência? Jovens imbuídos de nobres propósitos? Nobres criaturas ou apenas um bando de crianças, sem critério, sem padrões de certo e errado, com ideias distorcidas, corrompidos pela bestialidade, vingativos, passando adiante a humilhação que receberam, dando continuidade a estupidez, ao aniquilamento da educação e da delicadeza.
Sinto vergonha por eles, sinto vergonha por todos nós que assistimos passivamente ao desile da falta de senso. Apáticos, abatidos incapazes de mudar, de gritar, de dizer : Basta!

O que será preciso para que alguém se levante e exija a mudança?

Não basta a morte de jovens inocentes? Já não vimos o suficiente? 

Chega, não quero mais compactuar com essa turba, quero assumir uma postura diferente, quero dizer claramente que não concordo com isso. Eu não aceito que meus filhos sejam forçados a participar desse triste espetáculo. Será que sou só eu?

Ethel Joyce Borges