quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Cartola, saudades do poeta do morro.

Desde pequena ouço os sambas de Cartola, a sua calma poética, seu romantismo comedido, sempre me fizeram bem. Quem mais poderia dizer com tanta doçura "Queixo-me as rosas, mas que bobagem, as rosas não falam..."?
A figura de Cartola assim como a sua música é única, ninguém representou tão bem o homem do morro, suas dores, seus amores, como Cartola.
Seu amor por sua musa, Eusébia Silva do Nascimento, a dona Zica, é como o amor que todos sonhamos encontrar, um amor sereno, verdadeiro, sem falsas expectativas, um amor para ser vivido eternamente.
O desapego do homem do morro, a camaradagem e o humor do sambista, o sorriso sempre doce, esbarram sempre presentes em nossa memória. A sua música será sempre bem vinda e servirá de trilha sonora para nossa vida e nossos amores.
Saudades, Cartola, é triste lembrar que você não está mais entre nós. Por sorte nos deixou esse legado tão rico, sua música e sua poesia.

Mais triste, porém, foi ver sua escola tão amada, a quem ele deu o nome e as cores, sambando na avenida, festejando o frevo, esquecida de seu poeta maior. Teria sido tão lindo atravessar a avenida festejando com a cidade a vida, o samba e a poesia de Cartola.
Imperdoável essa falha da verde e rosa. Não bastasse isso ainda somos obrigados a aceitar o envolvimento da escola com a elite do crime.

O povo não merecia isso, mestre Cartola, não merecia esse esquecimento.

A “verde e rosa,” perdeu, uma excelente oportunidade de reverenciar seu sambista, seu poeta maior, nosso querido mestre, Cartola.
Ethel Joyce Borges

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Considerações sobre o nada I

Andando pelas ruas da cidade, não poso deixar de notar o alvoroço causado pelas meninas e meninos, cambaleantes, entorpecidos pela idiotice. Eles se colocam na frente dos carros, alguns sorridentes, exultantes, quase em delírio com sua cabeça raspada, o rosto e o corpo pintados, outros com semblante abatido, como ovelhas indo ao matadouro, incrédulos mas incapazes de escapar, de se rebelar de dizer não. A missão de cada um é pedir, implorar, sujeitar-se a humilhação e sorrir, agradecer e sorrir, obedecer e sorrir. Mansos, subjugados por eles os "veteranos".

Pergunto-me quem são? Estudantes cheios de sapiência? Jovens imbuídos de nobres propósitos? Nobres criaturas ou apenas um bando de crianças, sem critério, sem padrões de certo e errado, com ideias distorcidas, corrompidos pela bestialidade, vingativos, passando adiante a humilhação que receberam, dando continuidade a estupidez, ao aniquilamento da educação e da delicadeza.
Sinto vergonha por eles, sinto vergonha por todos nós que assistimos passivamente ao desile da falta de senso. Apáticos, abatidos incapazes de mudar, de gritar, de dizer : Basta!

O que será preciso para que alguém se levante e exija a mudança?

Não basta a morte de jovens inocentes? Já não vimos o suficiente? 

Chega, não quero mais compactuar com essa turba, quero assumir uma postura diferente, quero dizer claramente que não concordo com isso. Eu não aceito que meus filhos sejam forçados a participar desse triste espetáculo. Será que sou só eu?

Ethel Joyce Borges