sexta-feira, 7 de março de 2008

Missão Amorosa do Homem

Algumas pessoas dormem e acordam angustiadas, buscando uma resposta que lhes dê uma direção para suas vidas. Qual é o sentido da minha existência?Parece impossível que exista uma resposta para essa indagação, no entanto, relendo uns versos de Drumond, não pude deixar de sorrir, diante de uma resposta tão singela. Quando ele nos pergunta: “Que pode uma criatura senão entre criaturas amar?”. Está nos dando uma dica preciosa, mais adiante quando nos diz, “... Este é o nosso destino: amor sem conta...”, tudo faz sentido.Existo para amar meu semelhante. Fui criado para materializar e colocar em prática esse amor. Mas que amor é esse? Como trazer à existência esse projeto de amor sem fim? Esse amor paciente, benigno, que tudo suporta, que perdoa, que espera, que sabe compartilhar e doar-se em bondade? Que se alegra com as conquistas do outro, que não tem ciúmes, que sabe servir sem esperar vantagem?Estamos cercados por tanta violência, tanto egoísmo, tanta corrupção que não conseguimos enxergar que somos responsáveis e co-autores dessa história que está sendo escrita. A responsabilidade também é minha a partir do momento em que não passo adiante essa mensagem amorosa, no momento em que não assumo essa missão de amor sem conta que me foi atribuída pelo Criador. Em cada instante em que deixo de praticar atitudes generosas para com meu semelhante. Quando muitas vezes faço piada da inocência, da pureza e da bondade. Quando aceito que meu filho se julgue melhor que os outros. Quando passo a diante este ensinamento infame de que, já que estamos sendo prejudicados por um sistema corrupto temos sim, o direito de levar alguma vantagem, não importa a que preço. Todas as vezes em que ao cruzar com meu vizinho do lado desvio o olhar e finjo que não o vi. Todas as vezes que me faço de cego e ignoro meu semelhante caído na rua, impossibilitado de experimentar uma existência digna assino em baixo este decreto geral de calamidade publica. Essa passividade diante do erro é tão cruel quanto qualquer atitude violenta. É a minha maneira civilizada de ser cruel. Todo gesto de amor não cometido, toda palavra amorosa que não verbalizo é um passo dado em direção à violência, ao descaso, à consumação da morte da Razão, anunciada todos os dias nas manchetes dos jornais. Com certeza ainda é tempo de assumir cada qual a sua cruz, de dar o primeiro passo, não eles, não meu pai, minha mãe, meu irmão, meus filhos, o presidente, meu patrão, Senadores, Deputados, Vereadores, Legisladores, Promotores, Juízes, mas eu, eu mesma, em minha pequenez, imbuída da certeza de que é esse o meu destino. Dar o primeiro passo e assim começar a alterar o destino, a movimentar a História. Um passo de cada vez. Um pequeno gesto, um sorriso de cada vez. Fazer girar essa roda. Contagiar o mundo com esse amor e sentir a paz resultante da missão cumprida. Dormir o sono dos Justos.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Cinemas de Bauru

Assistindo à entrega do Oscar domingo passado, mais uma vez me senti frustrada por morar em Bauru. Quero deixar claro que amo nossa cidade e que o que me entristece é o fato de numa cidade de 356.680 habitantes o nosso direito à cultura, à informação e até ao lazer esteja sujeito a não sei que tipo de regras que nos impedem de acompanhar uma coisa tão básica quanto o simples lançamento dos filmes mais atuais, quanto mais dos melhores filmes. Sou uma leitora assídua sobre cinema, gosto de acompanhar os lançamentos, procuro me informar sobre o que acontece e mesmo assim me senti completamente por fora vendo a premiação de filmes, atores e diretores, sem ter tido a oportunidade de ver seus trabalhos. As instalações dos nossos cinemas estão muito bem, obrigada, ainda que me entristeça o fechamento do saudoso Cine Bauru, onde na adolescência passei momentos inesquecíveis com meus ídolos de juventude.O que falta é conteúdo. Causa-me espanto essa administração dos nossos cinemas, que não se dá ao mínimo trabalho de exibir ao menos os lançamentos, as novidades. O que dizer então de quando queremos assistir a um filme mais cult, e só nos resta correr às locadoras? É triste essa falta de visão. Existe público? Sim, existe, o que falta são opções. Muitas vezes, em três ou mais salas, somos presenteados com o último filme da Xuxa. Essa falta de alternativas me tira o direito à informação e à formação de opinião. Como posso saber se Javier Bardem recebeu uma premiação merecida se sou impedida de assistir seu desempenho? Como saber se o melhor filme é o melhor se não pude assisti-lo? Cinema é lazer, é entretenimento, é formador de opinião e de cultura. O cinema reflete o momento que o mundo está vivendo, suas inquietações, suas tendências. Nós da cidade “Sem Limites”, queremos fazer parte da elite que existe nesse país e que tem acesso à informação e à cultura.

Ethel Joyce Borges