Algumas pessoas dormem e acordam angustiadas, buscando uma resposta que lhes dê uma direção para suas vidas. Qual é o sentido da minha existência?Parece impossível que exista uma resposta para essa indagação, no entanto, relendo uns versos de Drumond, não pude deixar de sorrir, diante de uma resposta tão singela. Quando ele nos pergunta: “Que pode uma criatura senão entre criaturas amar?”. Está nos dando uma dica preciosa, mais adiante quando nos diz, “... Este é o nosso destino: amor sem conta...”, tudo faz sentido.Existo para amar meu semelhante. Fui criado para materializar e colocar em prática esse amor. Mas que amor é esse? Como trazer à existência esse projeto de amor sem fim? Esse amor paciente, benigno, que tudo suporta, que perdoa, que espera, que sabe compartilhar e doar-se em bondade? Que se alegra com as conquistas do outro, que não tem ciúmes, que sabe servir sem esperar vantagem?Estamos cercados por tanta violência, tanto egoísmo, tanta corrupção que não conseguimos enxergar que somos responsáveis e co-autores dessa história que está sendo escrita. A responsabilidade também é minha a partir do momento em que não passo adiante essa mensagem amorosa, no momento em que não assumo essa missão de amor sem conta que me foi atribuída pelo Criador. Em cada instante em que deixo de praticar atitudes generosas para com meu semelhante. Quando muitas vezes faço piada da inocência, da pureza e da bondade. Quando aceito que meu filho se julgue melhor que os outros. Quando passo a diante este ensinamento infame de que, já que estamos sendo prejudicados por um sistema corrupto temos sim, o direito de levar alguma vantagem, não importa a que preço. Todas as vezes em que ao cruzar com meu vizinho do lado desvio o olhar e finjo que não o vi. Todas as vezes que me faço de cego e ignoro meu semelhante caído na rua, impossibilitado de experimentar uma existência digna assino em baixo este decreto geral de calamidade publica. Essa passividade diante do erro é tão cruel quanto qualquer atitude violenta. É a minha maneira civilizada de ser cruel. Todo gesto de amor não cometido, toda palavra amorosa que não verbalizo é um passo dado em direção à violência, ao descaso, à consumação da morte da Razão, anunciada todos os dias nas manchetes dos jornais. Com certeza ainda é tempo de assumir cada qual a sua cruz, de dar o primeiro passo, não eles, não meu pai, minha mãe, meu irmão, meus filhos, o presidente, meu patrão, Senadores, Deputados, Vereadores, Legisladores, Promotores, Juízes, mas eu, eu mesma, em minha pequenez, imbuída da certeza de que é esse o meu destino. Dar o primeiro passo e assim começar a alterar o destino, a movimentar a História. Um passo de cada vez. Um pequeno gesto, um sorriso de cada vez. Fazer girar essa roda. Contagiar o mundo com esse amor e sentir a paz resultante da missão cumprida. Dormir o sono dos Justos.
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