As vezes, em dias de luz perfeita e exata,
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter, pergunto a mim próprio
devagar
Por que sequer atribuo eu
Beleza as cousas.
Um flôr acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: tem cor e forma
E existência apenas apenas.
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
Que eu dou as cousas em troca do agrado que me dão
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas:
são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisivéis vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as cousas que simplesmente existem.
Que dificíl ser próprio e não ver senão o visível.
Alberto Caeiro