quarta-feira, 27 de maio de 2009

XXVI

As vezes, em dias de luz perfeita e exata,

Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter, pergunto a mim próprio 

devagar

Por que sequer atribuo eu

Beleza as cousas.

Um flôr acaso tem beleza?

Tem beleza acaso um fruto?

Não: tem cor e forma

E existência apenas apenas.

A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe

Que eu dou as cousas em troca do agrado que me dão

Não significa nada.

Então por que digo eu das cousas:

são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,

Invisivéis vêm ter comigo as mentiras dos homens

Perante as cousas que simplesmente existem.

Que dificíl ser próprio e não ver senão o visível.


Alberto Caeiro

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