quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

 
ELEGIA
 
Ganhei (perdi) meu dia.
E baixa a coisa fria
também chamada noite, e o frio ao frio
em bruma se entrelaça, num suspiro.

E me pergunto e me respiro
na fuga deste dia que era mil
para mim que esperava
os grandes sóis violentos, me sentia
tão rico deste dia
e lá se foi secreto, ao serro frio.

Perdi minha alma à flor do dia ou já perdera
bem antes sua vaga pedraria?
Mas quando me perdi, se estou perdido
antes de haver nascido
e me nasci votado à perda
de frutos que não tenho nem colhia?

Gastei meu dia. Nele me perdi.
De tantas perdas uma clara via
por certo se abriria
de mim a mim, estela fria.
As árvores lá fora se meditam.
O inverno é quente em mim, que o estou berçando,
e em mim vai derretendo
este torrão de sal que está chorando. 

Ah, chega de lamento e versos ditos
ao ouvido de alguém sem rosto e sem justiça,
ao ouvido do muro,
ao liso ouvido gotejante
de uma piscina que não sabe o tempo, e fia
seu tapete de água, distraída.

E vou me recolher
ao cofre de fantasmas, que a notícia
de perdidos lá não chegue nem açule
os olhos policiais do amor-vigia.
Não me procurem que me perdi eu mesmo
como os homens se matam, e as enguias
à loca se recolhem, na água fria. 

Dia,
espelho de projeto não vivido,
e contudo viver era tão flamas
na promessa dos deuses; e é tão ríspido
em meio aos oratórios já vazios
em que a alma barroca tenta confortar-se
mas só vislumbra o frio noutro frio.

Meu Deus, essência estranha
ao vaso que me sinto, ou forma vã,
pois que, eu essência, não habito
vossa arquitetura imerecida;
meu Deus e meu conflito,
nem vos dou conta de mim nem desafio
as garras inefáveis: eis que assisto
a meu desmonte palmo a palmo e não me aflijo
de me tornar planície em que já pisam
servos e bois e militares em serviço
da sombra, e uma criança
que o tempo novo me anuncia e nega.


Terra a que me inclino sob o frio
de minha testa que se alonga,
e sinto mais presente quanto aspiro
em ti o fumo antigo dos parentes,
minha terra, me tens; e teu cativo
passeias brandamente
como ao que vai morrer se estende a vista
de espaços luminosos, intocáveis:
em mim o que resiste são teus poros.
Corto o frio da folha. Sou teu frio.

E sou meu próprio frio que me fecho
longe do amor desabitado e líquido,
amor em que me amaram, me feriram 

sete vezes por dia, em sete dias
de sete vidas de ouro,
amor, fonte de eterno frio,
minha pena deserta, ao fim de março,
amor, quem contaria?
E já não sei se é jogo, ou se poesia.


Carlos Drummond de Andrade



sábado, 6 de outubro de 2012

Alan Seeger


"Tenho um encontro com a morte.

Talvez ele me tome a mão
 para levar-me à terra escura,
sustar-me o olhar e o coração...

Mas tenho um encontro com a morte,
à meia-noite nalgum ponto,
quando, este ano a primavera
voltar a florir no Norte.
Serei fiel ao meu encontro."

Alan Seeger


Conheci esse poema aos 12 anos, em um livro da Editora Três que ganhei de minha mãe, com uma versão bastante simplificada do poema,mas que me marcou profundamente.

O que  me encanta é essa aceitação... Essa espera tranquila...
Não há o que temer.


I have a Rendezvous with Death


I have a rendezvous with Death
At some disputed barricade,
When Spring comes back with rustling shade
And apple-blossoms fill the air—
I have a rendezvous with Death
When Spring brings back blue days and fair.

It may be he shall take my hand
And lead me into his dark land
And close my eyes and quench my breath—
It may be I shall pass him still.
I have a rendezvous with Death
On some scarred slope of battered hill,
When Spring comes round again this year
And the first meadow-flowers appear.

God knows 'twere better to be deep
Pillowed in silk and scented down,
Where love throbs out in blissful sleep,
Pulse nigh to pulse, and breath to breath,
Where hushed awakenings are dear . . .
But I've a rendezvous with Death
At midnight in some flaming town,
When Spring trips north again this year,
And I to my pledged word am true,
I shall not fail that rendezvous.







Alan Seeger (22 de junho de 1888 - 4 de Julho de 1916) foi um poeta americano que lutou e morreu na Primeira Guerra Mundial servindo na Legião Estrangeira Francesa .

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

De repente, hoje, resolvi dar uma olhada no blog, nossa, meu último post foi em 2009,quanta coisa aconteceu.Quantos dias felizes, outros nem tanto, desses felizmente já nem me lembro mais.
 

Quanta coisa deixei de dizer...
 

Tenho a impressão de com o passar dos anos, fui ficando meio sem jeito, já não sei como exprimir meus sentimentos, já não encontro as palavras. Este ano farei 49 anos, quero parar de temer a idade, a morte e começar a viver, compartilhar.
 

Meu coração anda cheio de expectativas, vontades. Minha cabeça anda repleta de idéias. 

Quero encontrar tempo para ser, não uma outra pessoa, mas uma nova versão de mim mesma, mais corajosa, mais suave, distribuir mais sorrisos, falar mais baixo. Não permitir que a irritação e os maus hábitos me desconcentrem.
 

Não dizer sim quando minha mente minha alma e meu coração dizem não. Hoje mais do que nunca eu quero e sei que é possível ser mais feliz.
 

Ano novo, vida nova.

Bauru, 02 de fevereiro de 2012